A presidente em exercício do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce), Samira de Castro, foi expulsa da redação do Diário do Nordeste pelo diretor editor Ildefonso Rodrigues. O maior jornal do Ceará dispensou os trabalhos da jornalista em retaliação à matéria “Prática anti-sindical: Diário e O Povo censuram edital de assembleia por local de trabalho”, publicada no site do Sindjorce no dia 26 de março.

A repercussão nacional da denúncia despertou a ira dos patrões. Dois dias depois da publicação da matéria, o presidente do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas (Sindjornais), Mauro Sales, ameaçou, na presença de funcionários do jornal O Povo, o diretor de Ação Sindical do Sindjorce, Mirton Peixoto. Sales disse que os jornais iriam “endurecer” com o sindicato laboral, ameaça que concretizou-se na semana seguinte.
Na tarde desta segunda-feira (02/04), o editor Ildefonso Rodrigues chamou Samira de Castro na sala dele para comunicar que o jornal estava “liberando” a dirigente da obrigação de trabalhar. Afirmou que “não era interessante” para o Diário do Nordeste a presença da sindicalista na redação, atitude que caracteriza claramente perseguição política e prática anti-sindical por parte da empresa.

“Você fez uma escolha. Agora vá exercer seu mandato e só volte quando ele terminar”. Samira, repórter especial do Diário e única profissional daquela empresa a ocupar a lista dos 200 jornalistas mais premiados de todos os tempos do portal Jornalistas & CIA, argumentou que a decisão de liberar-se ou não era uma prerrogativa dela e da diretoria do sindicato dos trabalhadores, e não do jornal.

“Em nenhum momento o meu mandato me impede de trabalhar. Pelo contrário, estou envolvida em todos os projetos da editoria, inclusive conquistando prêmios nacionais para o jornal, como o HSBC de Imprensa e Sustentabilidade 2011”, afirmou a presidente do Sindjorce. Aliás, Ildefonso ameaçou retirar Samira do projeto premiado alegando que ela deveria licenciar-se e não mais participar de projetos especiais do jornal.

O afastamento foi o ápice dos assédios praticadas contra a presidente pelo jornal, iniciados quando a profissional comunicou à empresa que disputaria as eleições para a diretoria do Sindjorce. Na ocasião, com intuito de demovê-la da ideia de integrar a diretoria do sindicato laboral, o editor lhe ofereceu o cargo de editora de Reportagem.

Logo após a vitória da chapa que Samira integrava, em agosto de 2010, Ildefonso declinou do convite alegando “incompatibilidade” entre o cargo para o qual foi eleita pela categoria e a função de editora. No mesmo dia, Samira foi transferida da Editoria de Economia, onde exercia a função de subeditora, e rebaixada a repórter da Editoria de Reportagem.

Já em março deste ano, o Diário colocou em prática mais uma cartada da estratégia do “pede pra sair”, determinando a editora de Samira a retirá-la do projeto Tim Lopes de Investigação Jornalística alegando que a presidente do Sindjorce não tinha perfil para integrá-lo.

Meses depois, o salário de Samira foi rebaixado com o corte da gratificação que recebia para auxiliar na edição de matérias, numa clara violação à Cláusula Vigésima Nona da Convenção Coletiva de Trabalho dos Jornalistas Empregados em Jornais e Revista do Estado. Após notificação do Sindjorce comunicando a ilegalidade da redução de vencimentos, os valores foram ressarcidos à jornalista e o salário normalizado.

A presidente do Sindjorce não foi a primeira funcionária do Diário do Nordeste a sofrer perseguição política em função do exercício de mandato sindical. O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Gráficos (Sintigrace) e diretor executivo da Associação Cearense de Imprensa (ACI), Antônio Alves Galdino, também foi liberado compulsoriamente pelo Diário do Nordeste.

“Se o objetivo dos jornais do Ceará é intimidar a atuação sindical dos trabalhadores do Ramo da Comunicação, podem ficar certos de que não recuaremos um centímetro da defesa intransigente dos jornalistas e gráficos empregados nos veículos do Ceará. Se os jornais nos querem fora da empresa é o reconhecimento da nossa combatividade”, afirma Samira de Castro.

Fonte: Federação Nacional dos Jornalistas